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ARRAIAL DO OURO - GENEALOGIA A CONTA-GOTAS: ALFORRIAS

POR JOSÉ ALUÍSIO BOTELHO


Desde o início da escravidão no Brasil, ocorrida já na primeira metade do século XVI, até o fim do império e início da república, os relacionamentos sexuais dos senhores com suas escravas eram comuns, constantes e contínuos, principalmente devido a falta de mulheres brancas disponíveis tanto para o casamento, quanto para relacionamentos extraconjugais. Portanto os homens brancos procuravam suas escravas para as práticas sexuais, e desses relacionamentos, evidentemente, nasciam os filhos, chamados de espúrios, bastardos, sacrílegos (quando envolviam padres), ou naturais. A esmagadora maioria deles não eram reconhecidos pelos pais, o que não deixou de ser um obstáculo quase que intransponível na elaboração de genealogias no Brasil. Mas, existiram exceções, raras é verdade, que nos permite elaborar alguns troncos genealógicos esparsos. O reconhecimento desses filhos, ou as pistas, ou indícios das paternidades, na maioria das vezes se davam por ocasião dos batismos dessas crianças, podendo também ocorrer por documentos de perfilhação e/ou nos testamentos.
Na igreja, ocorriam de três formas: a primeira pelo reconhecimento formal, oficial com a declaração do pai da criança assumindo a paternidade e consequentemente alforriando tanto o recém-nascido, como a mãe do mesmo. A outra maneira, era feita de maneira indireta, sem reconhecer a paternidade, mas deixando a pista principal que se tornou recorrente nos livros eclesiásticos: a alforria na pia batismal da criança, extensiva a mãe, por livre e espontânea vontade, o que denotava um forte vínculo entre eles. Por fim, a liberdade da criança feita através de compra do recém nascido por ocasião do batismo. Muitas vezes, essas crianças na vida adulta declaravam essas paternidades de uma maneira ou de outra, como por exemplo, por ocasião de seus casamentos, ou eram reconhecidas em testamentos. Por último e não menos importante, havia a exposição da criança em casas de parentes, ou em casa de pretas forras previamente combinado, com a diferença de que os pais desses expostos, quase nunca eram identificados documentalmente. Em algumas localidades, existiram as chamadas “Casas da Roda”, que recebiam crianças lá deixadas sorrateiramente pelas mães, sem necessidades se identificar: nesses casos tanto o pai quanto a mãe jamais eram identificados. Para ilustrar e exemplificar nossa tese, apresentamos documentos em imagens com boa legibilidade.

1 O rico mineiro José Pedro de Queirós alforria e reconhece a criança como filha:




2 O abastado mineiro Anacleto Tavares de Sampaio alforria e reconhece a criança como filha:


3 O alferes Manoel Gonçalves de Matos alforria e reconhece a criança como filho: 


4 Antonio de Oliveira Ruela alforria sem reconhecimento de paternidade:


4 João Fernandes Coelho alforria sem reconhecimento de paternidade:


5 João de Sousa Dias, padrinho, compra a liberdade do afilhado na pia batismal por 32 oitavas de ouro; sem reconhecimento de paternidade:

 
6 Dona Marcelina da Silva alforria a criança por livre e espontânea vontade:


7 Custódio Monteiro e Ana de Freitas alforriam a criança por livre e espontânea vontade:


8 Criança exposta: na vida adulta ela adota o sobrenome da família, Mariana de Albuquerque Rolim de Moura

Fonte: Livros paroquiais (fragmentos) da matriz de Santo Antonio de Paracatu.

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